quinta-feira, 22 de junho de 2017

VELHOS AMIGOS NA TARDE DE INVERNO




Tarde de inverno, livro
aberto
a cerzir claridades.
Letras de ouro bordam árvores
e aves despovoadas de idades
voam.
O tempo é endereço de luzes,
o sol, assinatura de recomeços.

Avistei-me com velhos amigos
na rua.
Conversamos os rumos da vida,
nos confessamos ainda despreparados
para o puro-conhecimento- amplidão.

De tudo.

Do mundo.
Do agora.
Do após.

Do sério
e do lúdico.

Tarde banhada em ouro,
menina lúcida de seus diamantes:
os instantes
cravejados de suturas.
Cada ponto, a desenvoltura
do perdão
lutando por desatar todos os nós
em nós.

Tarde de inverno, livro
fechando-se
a rutilar intimidades...
E abrigos.

Em mim
e nos velhos amigos!



terça-feira, 6 de junho de 2017

PROCURA




Se é possível redescobrir
tardes claras de caras recordações
e reencontrar brilhantes sóis
repousados
em frescos lençóis  de verdes lições...
Alguém, por favor, diga-me!

Se é possível, outra vez, mover
os lábios em singelas orações
e recolocar a fé de passadas estações
em redomas inquebrantáveis de vidro
translúcido
e de crepúsculos risonhos e estáveis...
Diga-me, por favor, alguém!

Se é possível reviver no porvir
certezas embaladas em terno carinho
de verdades
que matam a fome e a sede e a ânsia
de se poder ir...
Alguém - não tarde! -
por favor, mostre-me o caminho.

REPARAÇÃO



Que me perdoem pelo silêncio
que à minha volta traço
e pela canção que, perceptível, voa
dos meus lábios contritos
e não se escutam nos rumores
que dentro de mim faço.

Careço de perdão ao redor  do espaço

vítreo
que nasceu em mim como aventura
inesperada
impenetrável
inacessível
em seu princípio
meio
e fim.

Que me perdoem a linguagem

que adiante de mim lanço
e a escrita que sai das minhas mãos
chagadas,
e não se vê.

Careço de perdão dentro do espaço

que não se lê
e que vingou além de mim
como rubra imagem de límpido
sangue
que movimenta e estrutura
o meu ser.

Mas que ninguém sabe,

que ninguém escuta,
que ninguém vê.